Ana Paula Inácio

 

qualquer dia a morte apanha-te
desprevenido
sem o teu fato
imbuído de alfazema
traz sempre uma camisa branca
um lenço de seda
uma marca
— não tem de ser especial —
porque qualquer dia a morte apanha-te
e quem te transportará a casa
nu e frio
quem te cobrirá com um lençol?
um fruto é um fruto
um fruto cai
é de quem o apanha
mas se a morte
não te devolve a casa
faz um desenho,
pequeno, no braço,
e quando a folha maior da árvore
não se mexer
prepara-te
tudo o que pára
pode ser um sinal



em Vago Pressentimento Azul por Cima, s.l.: Alambique, 2020, p. 29.

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