Um poema de María Zambrano



Multidão


Há mortos que não fazem ruído, choro, e é maior o seu pesar.

Um não humano. Mas de consciência e não de vida. O indiscernível, o máximo, sem cessar, incessante. Ruído de passos humanos, dos pés sobre a terra, sobre o solo, o peso do homem, a sua mancha, sua impureza.

Peso e consciência.

Peso e ritmo.

Asas. Os anjos cinza.

O protagonista: apenas reconhecido. Leves traços, não que o diferenciem, mas que o façam ser notado; simplesmente.

A multidão reaparecerá sempre: multidão sobre o asfalto, sobre o pó, sobre a lama.

Labirinto de louro e murta. A Primavera.


em Poemas, tradução de Ricardo Ribeiro e desenhos de Maria Condado, s/l: Sr Teste, 2020, p. 16.

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