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Acabo de me servir de um pouco de armagnac. Gosto de palavras que terminam com o mesmo som: armagnac, cognac, Dvořák.

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Um dia, no País Basco francês, participei num almoço ao ar livre. À minha frente, na mesa, uma Senhora dos seus oitenta anos, o seu filho de cinquenta e cinco (lembro-me perfeitamente), um Senhor com boina basca e lenço vermelho ao pescoço (ex-Resistência Francesa). A certa altura, a Senhora entorna o vinho tinto que estávamos a beber. E, naquele tom que só os franceses conseguem, começou "oh! oh! oh!", rapidamente arranjou maneira de criar uma barreira com a toalha de papel que cobria a mesa e começou, de imediato, a sorver o vinho. O filho, de cinquenta e cinco anos (lembro-me perfeitamente), começou naquele tom que só os franceses conseguem "mamã! mamã! mamã!", enquanto se ria a bom rir. E eu, do alto dos meus quinze anos, ri também.

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No fim do almoço, o Senhor com boina basca e lenço vermelho serve-me um pouco de armagnac. Pega num cubo de açúcar, embebe-o no armagnac e leva-o à boca. Demora-se. Depois, bebe o armagnac dum só trago. Aprender, às vezes, não custa nada.

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