Um poema de Raphael Sassaki


gravidade

às vezes os literatos
valorizam demais a literatura
e isso, me parece
é um bocado errado

estou aprendendo a ler mapas de ponta cabeça
e a tirar fotos do coração das bananas

no jornal diziam que os portugueses
haviam descoberto a molécula da saudade
e aqui em São Paulo todos os dias
há graffitis novos
para apontarmos o dedo

os escombros de prédios aqui
parecem pavimentos de montanhas

às vezes tenho medo
que algum objeto estranho
leve teu corpo embora

mas é sempre bom lembrar
que mesmo na chuva
podemos sair de casa
para jogar brisa na cara
e achar pedaços de verdade
nesse fosso de estrelas

em A destruição do Mundo, Douda Correria, Junho de 2019, s/p.

fonte: Antologia do Esquecimento

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