As mãos no teclado


Procuro administrar as minhas dúvidas
Só assim conseguirei ultrapassar
os dias sem cair na fácil e rápida loucura

A verdade é apenas esta: não é
fácil envelhecer nem sentir o tempo
Há muito deixei os regressos para
aqueles que procuram ser felizes
porque duvidei sempre da felicidade
e mais duvido quando não é minha
Um jardim sem sol poderá ser triste
para muitos mas não é para mim
já que há nele uma promessa de silêncio
impossível de concretizar se o sol o invadir
mais as gentes com os seus risos e certezas
de dias sempre e gloriosamente assim

Deve ser triste ir pela vida fora
com a promessa da terra prometida
a redenção para lá de qualquer pecado
Depois encontrar apenas o frio o peso
da terra sobre os ossos e aquela escuridão
húmida que vemos nos filmes
Por isso cada vez mais duvido de tudo
o que me dizem ocultam reiteram
Não quero ser apanhado de surpresa
e desiludir-me: para isso basta estar vivo

Desejo apenas com o dia terminado
chegar a casa e com espanto sentir
o dever cumprido e não o peso da canga
ou o osso moído pela desonra do trabalho
Sentir a  tarde morrer lá fora
e no meu peito a vertigem duma única
simples certeza

Mas — ó deuses — duvido

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