Vladimir Karl Abner (1914-1997)


Em 1915, quando Jevdet Bei mandou cercar a cidade de Van, Vladimir Karl Abner tinha um ano e o pai, Kusan Abner, fazia parte dos resistentes arménios que combateram as forças otomanas. Findado o cerco, depois da intervenção das forças imperiais russas lideradas pelo general Nicolai Yudenich, a família Abner refugiou-se na região do Cáucaso, tendo depois rumado até à cidade de Moscovo, onde Kusan Abner entrou em contacto com um grupo bolchevique, tendo, mais tarde, participado na Revolução de Outubro, liderando um ataque a um posto da Guarda Imperial, situado na actual Rua Tverskaya. Durante o ataque, Kusan Abner foi ferido com gravidade, perdendo o olho direito. Foi elevado a herói do povo e da Revolução. Trotsky, num dos seus vários discursos, referiu-se a Kusan Abner como um «verdadeiro revolucionário e amigo pessoal». Tal referência não caiu bem a Estaline que, em Setembro de 1942, ordenou a deportação da Kussan Abner para um dos gulags perto de Norilsk. Em Agosto desse mesmo ano, o seu filho, Vladimir Karl Abner, foi um dos primeiros voluntários para a defesa de Estalinegrado. Durante os quatro anos anteriores, tinha sido professor na Universidade de Moscovo, onde leccionara Teoria Política, História dos Povos Soviéticos e Análise Retórica. Entre os seus pares era conhecido como um fervoroso membro do partido e admirador das políticas de Estaline. Foi na frente de combate que recebeu a notícia da deportação do seu pai para Norilsk, onde, nesse mesmo Inverno, viria a morrer. Tanto a deportação como a morte do pai tiveram um grande impacto em Vladimir Abner, embora tenha continuado a lutar pela pátria-mãe, tendo participado na conquista de Berlim. Com o fim da Segunda Guerra Mundial regressou a Moscovo, onde voltou a ocupar o cargo de professor na Universidade. Todavia, a experiência da guerra (onde assistiu às atrocidades do Exército Vermelho na Polónia) e a deportação do pai, levou-o a uma crescente descrença no regime de Estaline e no comunismo em geral. Foi proibido de leccionar e exilado na cidade de Birlik, onde conheceu Alexander Soljenitsine, com quem manteve uma relação de amizade muito próxima até à morte do escritor. Em 1963 a sentença de exílio foi revogada. Vladimir Karl Abner decidiu mudar-se para Praga, onde começou a leccionar russo na Universidade. Nesta cidade entrou em contacto com o movimento reformista liderado por Alexander Dubček, mas também com os intelectuais que mais se opunham à ingerência de Moscovo nos destinos do país. É dessa altura a amizade com Václav Havel, que o convida para algumas emissões da Rádio Livre da Checoslováquia.  Com a Primavera de Praga e a invasão da Checoslováquia por forças militares do Pacto de Varsóvia, Vladimir Karl Abner perde o lugar de professor de russo na Universidade. Havel arranja-lhe trabalho na mesma cervejeira onde tinha começado a trabalhar. A amizade entre os dois torna-se mais firme. Um dia, depois de mais um turno, Havel convida Abner para sua casa, onde o instiga a escrever uma Nova História da Checoslováquia. Abner recusa essa espécie de revisionismo tão à maneira soviética. Os dois amigos nunca mais se falaram e Abner abandona a Checoslováquia, rumando a Paris. Aí tenta, sem sucesso, ser professor de russo. Frequentou os cafés mais boémios e entrou em contacto com alguma da esquerda trotskista, que o desilude profundamente, levando-o a regressar à Checoslováquia. Devido a uma amnistia, Vladimir Karl Abner volta a leccionar na Universidade: Russo, Teoria Política, Análise Retórica e História dos Povos Eslavos, disciplina por ele criada, onde explora a questão eslava e desenvolve as suas teorias sobre a Legião Checoslovaca. Durante a Revolução de Veludo, Abner desempenhou um papel importante, principalmente entre os estudantes (que sempre o viram como um fervoroso anti-comunista), tendo apoiado a manifestação estudantil de 17 de Novembro de 1989. Com o fim da influência comunista no país, e com os primeiros sintomas de uma possível dissolução da Checoslováquia, Abner defendeu sempre o diálogo e a união, promovendo debates na Universidade e em algumas rádios. Desiludido e doente, Vladimir Karl Abner refugia-se na região dos Beskides, em sua casa, onde morre em Abril de 1997.

Sem comentários: