Sou bramanista, mas estamos sem criada
Em casa faço aquilo que inda sei fazer:
Largar as águas e em seguida a jarra encher;
Mas não há toalha e fica a água derramada.
Não é tarefa de homem isso, me diz ela;
E eu sinto-me sem jeito e até mo levo a mal,
Ao ver pagar co'as maravilhas da panela
O modo aselha que é o meu habitual.
E não me canso de louvar a Quem se alarga
Em luz do mundo, em artes e em saber:
Sempre que a malga das papas ela me traga,
E eu veja as pontas dos dedos a fender,
sinto uma mesma, uma única adoração
por Bach, o Sol e Kant e os calos dessa mão.
em Uma migalha na saia do Universo — uma Antologia da Poesia Neerlandesa do Século XX, selecção e introdução de Gerrit Komrij, tradução de Fernando Venâncio, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997, p. 29.
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