Klaus Fehler Nervig nasceu no seio de uma família endinheirada, com pergaminhos, da cidade de Ulm, no estado federal alemão de Baden-Württemberg. O seu pai desde cedo encaminhou o filho para a área do Direito, para assim dar continuidade a uma tradição familiar. Inscreveu-o no melhor colégio interno, que ficava ao fundo da rua onde se situava a casa da família Nervig, que ali existia desde a fundação da cidade. Os Nervig viam o filho apenas no Natal, Páscoa e férias de Verão, altura em que se refugiavam numa casa que possuíam no interior da Floresta Negra, onde o pai, o velho Rupert, tentava sem sucesso reescrever a História do Direito e das Leis Alemãs. Apesar dos esforços do pai, o jovem Klaus não demonstrava qualquer interesse no estudo das leis, embora tenha concluído o curso de Direito sem grande dificuldade. Foi durante os anos da faculdade que desenvolveu e apurou o gosto pelas letras, tendo criado, até, uma revista literária: Organismus. Nela publicou os primeiros poemas, utilizando um pseudónimo, pois nunca conseguiu a aprovação paternal. É sabido que o velho Rupert via a poesia como «uma doença própria dos fracos», o que muito atormentava Klaus. Avesso à prática do estudo e aplicação das leis e ignorado pelos pares, que consideravam a sua poesia demasiado barroca e desprovida de qualquer rasgo de originalidade, Klaus Fehler Nervig procurou trabalho num jornal, onde escreveu sobre tudo: pintura, teatro, escultura, numismática, filatelia, columbofilia e poesia, tendo alcançado relativo sucesso entre os neófitos mais impressionáveis do mundo das artes, que aplaudiam os seus textos e os discutiam à mesa do café, replicando-os depois ao jantar, para gáudio dos mais sensíveis. Com a ascensão do nazismo ao poder, Klaus Fehler Nervig nunca se filiou no partido nazi, mas também nunca o atacou ou denunciou na coluna semanal que mantinha, ao contrário de outros intelectuais da altura, como foi o caso de Franz Frederick Horst. Para memória futura ficará o seu silêncio em relação à bücherverbrennung de 1933. No dia 4 de Setembro de 1939, e depois de uma semana a agonizar com fortes dores abdominais, faleceu em casa. No relatório da autópsia, assinado por Gottfried Benn, pode ser lido: «Causa de morte inconclusiva. Tudo aponta para um episódio de mau-fígado.».
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