Um poema de Reinaldo Arenas


Não é por Hamlet que morre a suicida


Não é por Hamlet que morre a suicida,
mas é pelo rio que passa murmurando,
sempre entre barbacãs carcomidas,
a horrível trama do porquê e quando.

Não é por amor que inicia a partida
para as águas que a vão precipitando,
mas porque já enfeitada e na comida
uma mosca ante o seu nariz passou voando.

Ofélia entre as águas vai adormecida,
pensam alguns que a vão olhando.
Infelizes, desconhecem a investida

que um peixe às suas nádegas vai dando.
Triste final, depois que já não há vida
do prazer de viver vai desfrutando.


em Poesia Cubana Contemporânea, tradução de Jorge Melícias, selecção, prefácio e notas de Pedro Marquês de Armas, Lisboa: Antígona, 2009, p. 69.

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