Para ti, falo
Para
ti, falo. O eco. Os aviões dos jogos de pé-coxinho transmitidos. A
boa nova brilha, hoje. Para ti, anuncio o dom do desejo, o mar sem
trajecto, a boca.
Para
ti, a indisciplina dos cumes de cabeça de égua, o relinchar da
neve, além, inaudito.
Para
ti, amor exasperado, as verdades primeiras, o prazo dado às pedras
empoleiradas.
Para
ti, só para ti, o luto dos círios, o hino ao rochedo, a carta
inviolada do sinal.
*
Ferida
na tua candura. A escama, Os liames selvagens do ar e da água. Uma
vez salva, mais bela, seios descobertos, as coxas, companheiras da
onda.
E
o entrave do amor à fuga fácil.
*
O
número. O escrínio. O jogo das insígnias cobiçadas. O alfabeto,
aftas grosseiras. Rebentam os lábios com a frase.
Aqui,
desdobro. Páginas, país impaciente. Aqui, povôo, aqui replanto,
aqui construo. Sacia a tinta o solo, rio e chuva.
Aqui,
tu reinas.
*
A ti, dedico. A areia. O
fruto do diálogo, alga crestada.
E
o sal nos escombros, praia reduzida.
*
Imóvel. Réplica da
lâmpada.
Nítido
amanhã para espanto das mãos.
em A obscura palavra do deserto — uma antologia, selecção e tradução de Pedro Tamen, Lisboa: Cotovia, 1991, pp. 17-19.
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