Pedro Galvão


É bom deixar claro, antes de mais, que ser a favor da eutanásia voluntária não implica a menor oposição aos cuidados paliativos. A vontade de quem prefira receber esses cuidados em vez de recorrer à eutanásia deverá ser escrupulosamente respeitada. Julgo, aliás, que quem tenha essa preferência deverá poder contar com as condições médicas necessárias para realizá-la. Todavia, os cuidados paliativos de qualidade nem sempre estão disponíveis. Nem sempre têm a eficácia desejável. E, o que é ainda mais importante, na melhor das hipóteses permitem somente controlar a dor. Com grande frequência, no entanto, a escolha de quem opta pela eutanásia não se baseia (ou não se baseia apenas) na aversão à dor. A perspectiva de ficar intoleravelmente incapacitado, sem qualquer possibilidade realista de recuperação, é o que leva muitas pessoas a preferir deixar de viver. Por todas estas razões, é falso que os cuidados paliativos tornem desnecessária a legalização da eutanásia.


em Ética com Razões, Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2015, pp. 54-55.

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