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Desconfio sempre de alguém que sente necessidade de dizer que escreve. Pior quando diz que escreve "umas coisas". Sempre tive dificuldade em entender o que são "umas coisas". No outro dia, no meio de uma conversa, um colega de trabalho disse que escrevia "umas coisas", que tinha um blogue onde as publicava. Não entendi a razão de tal declaração, mas ouvi-o sem me desmanchar e também eu dizer que "tenho um blogue onde escrevo umas coisas". E ele lá continuou com um discurso todo defensor daquilo que escreve e publica no blogue, criado a pedido dos amigos que gostam muito de o ler. É claro que não resisti e fui procurar o dito blogue. Li as coisas que por lá estão e senti um pouco de vergonha alheia: este meu colega não merece os amigos que tem. Porque foram os amigos que o encorajaram a criar um blogue onde pudesse divulgar aquilo que escreve. Cada vez mais me convenço que os amigos são a pior coisa que pode acontecer a alguém que escreve, porque os amigos são, também, os piores leitores, isto é, não possuem qualquer crivo crítico, ou estético, porque são amigos. Os amigos, na escrita, não deviam existir. As afinidades: sim. Mas os amigos: não. Um amigo é um peso morto que não deixa a escrita avançar. Um amigo é necessário: fora da escrita. Dentro dela é um furúnculo que nos incomoda. 

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