Lí por aí


Passos Coelho "matou" 192 pessoas


No quadriénio 2007-2010, suicidaram-se em média, por ano, em Portugal continental, 983 pessoas. No seguinte, 2011-2014, em que Passos Coelho foi primeiro-ministro, esse número subiu para 1031 mortes. O número médio de suicídios por ano no mandato de Passos foi de mais 48 em relação à média dos quatro anos anteriores. Tudo somado, 192 mortes. Sabemos que esse mandato foi de profunda austeridade. O governo cortou a torto e direito em tudo o que pôde e só não cortou mais porque o Tribunal Constitucional não deixou. O desemprego aumentou brutalmente, os impostos também, as prestações sociais baixaram. Podemos, portanto, pensar: o aumento dos suicídios ocorridos neste período decorreu diretamente da governação liderada por Passos Coelho. Podemos, mas só se utilizarmos a técnica - grunha, para dizer o mínimo - que o líder do PSD ontem utilizou para estabelecer uma ligação direta entre alegados suicídios relacionados com o incêndio de Pedrógão e uma suposta falta, por parte do Estado, no apoio psicológico aos que sobreviveram em sofrimento. ("Tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, pessoas que puseram termo à vida, que em desespero se suicidaram e que não receberam o apoio psicológico que deviam.") A declaração foi tão profundamente má que nem se sabe por onde começar. Um político - muito menos o líder do maior partido da oposição - não usa casos individuais de supostos suicídios como argumento político contra quem quer que seja - nunca, em circunstância alguma. Quem faz isso tem de ter alguém que o informe do efeito de contágio na mediatização de suicídios. Se não sabem o que é, googlem. Por outro lado, ninguém pode dizer que um suicídio decorreu diretamente do facto A, B ou C. Um suicídio é multicausal. E as suas explicações são de uma complexidade absolutamente não enquadrável nas necessidades de simplicidade da política. Por último: um líder que usa esta informação sem ter o cuidado de a confirmar (e não se confirmou) tem de se perguntar se ainda está em condições de se manter líder. Portugal precisa desesperadamente de oposição. Resolvam lá isso, se faz favor.


P.S. - Passos pediu desculpa por ter usado informação falsa. Não percebe que não podia ter usado, mesmo se verdadeira.



João Pedro Henriques, Diário de Notícias, 27 de Junho de 2017.

Sem comentários: