Um poema de Gregório de Matos


Ao célebre Fr. Joanico compreendido em Lisboa em crimes de sodomita


Furão das tripas, sanguessuga humana,
Cuja condição grave, meiga, e pia,
Sendo cristel dos Santos algum dia,
Hoje urinol dos presos vive ufana.

Fero algoz já descortês profana
Sua imagem do nicho da enxovia,
Que esse amargoso traje em profecia
Com a lombriga racional se dana.

Ah, Janico fatal, em que horóscopos,
Ou porque à costa, ou porque à vante deste,
Da camândula Irmão quebraste copos.

Enfim Papagaio humano te perdeste,
Ou porque enfim darias nos cachopos,
Ou porque em culis mundi te meteste.


em Antologia de poesia do período barroco, introdução e organização de Natália Correia, Lisboa: Moraes Editores, 1ª edição, 1982, p. 212.

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