Um poema de Wilfred Owen


A Carta

C. E. B. Dez de Junho. Meu Amor
(Lápis de um raio! Olha, Bill, passa aí a navalha.)
Tudo corre, querida, à maravilha.
Este ano acaba a guerra, estou em crer.
Hunos de capacete a gente poucos vê.
O perigo anda lá longe. O rancho é menos mau.
Quem me dera provar dos teus biscoitos.
(Dá-me um bocado, Jimmie, do teu pão)
Por hoje creio não há que dizer mais.
(Não dás? Estupor! Não dês então
E passa para cá o meu cigarro!)
Para eu regressar já pouco falta. Não te aflijas.
Estou melhor dos pés, como já disse.
Estamos agora a descansar. Não te apoquentes.
(VRACH! Ena, pai da vida! Esta passou rente!)
Pede à mãe que te empreste meia libra.
Beijos à Nell e ao Bert. Quando eu e tu ―
(Eh! Com os diabos! Firmes? Firme!
Jim, ouve rapaz, dá-me uma ajuda aqui
Meu Deus! Levei um tiro. Aguentar. Vai mesmo mal.
Deixa! Manda ao diabo a tintura de iodo! Pega lá, Jim.
A minha patroa, Jim, é uma santa. Escreve-lhe tu.)


em Elegias, selecção, prefácio e tradução de João Almeida Flor, Lisboa: Relógio D’Água, p. 63.

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