Um poema de Frei Jerónimo Baía


A uma trança de cabelos negros

Diversa em cor, igual em bizarria
Sois, bela trança, ao lustre Sofala,
Luto por negra, por vistosa gala,
Nas cores noite, na beleza dia.

Negra, porém de amor na monarquia
reinas senhora, não servis vassala;
Sombra, mas toda a luz não vos iguala;
Tristeza, mas venceis toda a alegria.
Tudo sois, mas eu tenho resoluto
Que sois só na aparência enganadora
Negra, noite, tristeza, sombra, luto.

Porém na essência, ó doce matadora,
Quem não dirá que sois, e não diz muito,
Dia, gala, alegria, luz, senhora?


em História e Antologia da Literatura Portuguesa - Século XVII, fascículo nº 29, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, p. 27.

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