Marcos Pinto (Manuel Bento de Sousa)


Já que falei em poetas, vou entrar com eles, fazendo primeiro a advertência de que os poetas parvoneses se dividem em dois bandos adversos, que não se podem ver um ao outro, e que podemos designar assim: poetas de grenhas e poetas das brenhas.
Os primeiros, disciplinados e comandados por um chefe, que dá a senha literária, submetem a este as suas obras, e só as mandam correr mundo quando o chefe, depois de consultar como os romanos os animalejos do seu quintal, lhes permite que corram, porque ouviu cantar as cigarras na copa da sua olaia!
Os segundos não têm rei nem roque, adoram o ideal, e dão marradas poéticas no senso comum de quem não estiver à altura da inteligência parvonesa, como a mim me aconteceu por muito tempo.


em A Parvónia – recordações de viagem, Lisboa: Frenesi (conforme as edições de 1868 e 1894), 2007, p. 187.

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