Nada há de
mais antagónico ao belo natural do que o esforço que se emprega para exprimir
coisas ordinárias ou comuns de um modo singular ou pomposo; nada degrada mais o
escritor. Longe de o admirar, lamenta-se que ele tenha passado tanto tempo a
fazer novas combinações de sílabas, para dizer tão-só o que toda a gente diz.
Este é o defeito dos espíritos cultivados, mas estéreis; têm palavras em
abundância, mas não ideias; trabalham, pois, com as palavras e imaginam ter
combinado ideias, porque arranjaram frases, e julgam ter depurado a linguagem
quando, na verdade, a corromperam, desviando as acepções. Estes escritores não
têm um estilo ou, se quisermos, têm apenas a sua sombra. O estilo deve gravar
pensamentos: eles sabem unicamente rabiscar palavras.
em Discurso sobre o Estilo,
tradução de Artur Morão, Covilhã: LusoSofia Press, Textos Clássicos de
Filosofia, Universidade da Beira Interior, 2011, pp. 9-10.
Sem comentários:
Enviar um comentário