George-Louis L. de Buffon


Nada há de mais antagónico ao belo natural do que o esforço que se emprega para exprimir coisas ordinárias ou comuns de um modo singular ou pomposo; nada degrada mais o escritor. Longe de o admirar, lamenta-se que ele tenha passado tanto tempo a fazer novas combinações de sílabas, para dizer tão-só o que toda a gente diz. Este é o defeito dos espíritos cultivados, mas estéreis; têm palavras em abundância, mas não ideias; trabalham, pois, com as palavras e imaginam ter combinado ideias, porque arranjaram frases, e julgam ter depurado a linguagem quando, na verdade, a corromperam, desviando as acepções. Estes escritores não têm um estilo ou, se quisermos, têm apenas a sua sombra. O estilo deve gravar pensamentos: eles sabem unicamente rabiscar palavras.


em Discurso sobre o Estilo, tradução de Artur Morão, Covilhã: LusoSofia Press, Textos Clássicos de Filosofia, Universidade da Beira Interior, 2011, pp. 9-10.

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