Um poema de Francisco Rodrigues Lobo


[Vai o rio de monte a monte...]


Vai o rio de monte a monte,
Como passarei sem ponte?

É o vao mui arriscado,
Só nele é certo o perigo;
O tempo como inimigo
Tem-me o caminho tomado.
Num monte está meu cuidado,
E eu, posto aqui noutro monte,
Como passarei sem ponte?

Tudo quanto a vista alcança
Coberto de males vejo:
D’aquém fica meu desejo
E d’além minha esperança.
Esta, contínua, me cansa
Porque está sempre defronte:
Como passarei sem ponte?


em Antologia Literária Comentada: Época Clássica - Século XVII, organização e comentários de M. Ema Tarracha Ferreira, de acordo com o programa de Português para o Curso Complementar do Ensino Secundário, Lisboa: Editorial Aster, s/d, p. 71.