Lí por aí


O Fogo na Minha Aldeia

Para o manuel a. domigos
após a leitura de Baço


Na minha aldeia é assim: quem semeia nem sempre é quem colhe, mas há quem amanhe e quem serre. Excepto ventos, excepto tempestades. De machado na mão, há quem rache a madeira em toros perfeitos. Há quem acarte, há quem arrume. Depois há sempre quem vá ensacar pinhas e colha alguma caruma. As pessoas agora usam acendalhas. Não, agora usa-se granulado para salamandras eléctricas. Ninguém acarta, ninguém arruma e, pior que tudo, não há quem saiba dar uso a um bom machado. Mas para mim não há fogo como o da minha aldeia. Só dispenso, sempre dispensei, o fole. Para atiçar chamas, dispenso bufas de fole. O fole é o lado crítico da questão, diria pseudo-crítico. Crítico é o vento e o sopro. O fole é uma bufa de ar. Prefiro uma lareira limpa de cinzas com bons respiradouros. Prefiro o fogo da minha aldeia.


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