Guy Debord


O mundo racional produzido pela Revolução Industrial libertou racionalmente os indivíduos dos seus limites locais e nacionais, pondo-os em ligação à escala mundial; mas o seu contra-senso consiste em separá-los de novo, segundo uma lógica oculta que se exprime em ideias dementes, em valorizações absurdas. A estranheza cerca por todo o lado o homem que se tornou estranho ao seu mundo. O bárbaro já não se encontra nos confins da Terra, está aqui, feito bárbaro precisamente devido à sua participação obrigatória no mesmo consumo hierarquizado. O humanismo que envolve tudo isto é contrário do homem, a negação da sua actividade e do seu desejo; é o humanismo da mercadoria, a benevolência da mercadoria para com o homem que ela parasita. Para quem reduz os homens a objectos, os objectos parecem ter todas as qualidades humanas, transformando-se as manifestações humanas em inconsciência animal.


em O Planeta Doente, tradução de Júlio Henriques, Lisboa: Letra Livre, 2014, p. 31.

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