Joaquim Manuel Magalhães


O que aconteceu às editoras portuguesas? O menos que se pode dizer é que estão moribundas. Não me refiro àquelas que continuam a exercer o seu ofício de meretrizes promocionais, difusoras de uma soldadesca da escrita a baloiçar entre o livro escolar mal amanhado e o pechisbeque de droga e de sexo e de ocultismo com mãos cheias de sensacionalismo. Não  me refiro sequer a essas outras que se preocupam apenas com o assegurado, com as Obras Completas de autores com amplas bases partidárias de apoio; ou com livrinhos em fragmentos de rodapé que já são feitos expressamente para prenda, para caberem no sapato, estreitinhos e metediços, como convém.
     Refiro-me à tentativa de lançar morte a essas outras editoras que resistem, que buscam a infiltração do novo, do diferente, do que não tem êxito assegurado à partida. O cerco financeiro, as pressões bancárias, as sacanices das distribuidoras são outras tantas tentativas de neutralizar esses espaços que não obedecem aos empórios editoriais, às regras de dominação de mercados, à banalização de leituras.


em Os Dois Crepúsculos - Sobre poesia portuguesa actual e outras crónicas, Lisboa: A Regra do Jogo, 1981, p. 362.

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