Um poema de Paulo Jorge Fidalgo


Não suporto


Não suporto essas pessoas reais
com as distâncias do costume.
Felizes ou desesperados,
inteligentes ou poltrões,
todos desamo com demais verdade
para que comovam a lágrima.
Distraio da canalha e do talento
com o bocejo fácil de quem não tem tempo.
O sumário dos anos nada trouxe
à minha colecção íntima de vícios e paixões.
A Deus ou ao Diabo me darei
se eu o não for.


em Síntese Poética da Conjuntura, Lisboa: Hiena Editora, 1993, p. 57.