Um poema de Raquel Nobre Guerra



Se sorrio aos mortos e enterro os vivos
como um objecto escuro por que 
rodaram mãos e jeitos de luz? Sim.

Vivo como se não estivesse aqui
roupa leve como acontece na vida.
E vou da primeira à última batida 
na respiração de um pulmão vivido.

Lê assim.

Podia arder a uma pouca distância de ti
nessa praceta que é um poema teu 
e as coisas voltariam a mim, meras, 
como o ser transportada pelos dias —
mas cairei por aqui.

Meu amor.

Porta no trinco e nada nas mãos.
Há muito que é tudo o que resta.


(inédito)