A capa do meu livro tem a
silhueta da cabeça de um mineiro. Esta é mais recente. O importante é que o
livro é o mesmo, edição de bolso e tudo. Lembro-me que o comprei em 94, na
Papelaria Progresso, aqui em Manteigas. A Papelaria Progresso era a única que
vendia livros. E podíamos mandar vir os que quiséssemos do catálogo da
Europa-América. Ora eu li este livro numas férias de Natal. A letra é muito
pequena e o espaço entre linhas quase inexistente. Mas é um grande livro. Antes
de ler Orwell, ou Cossery, ou Darien, tinha lido Zola. As descrições da vida
nas minas são sufocantes. Pobres desgraçados, pensava eu, sentado no sofá ou
deitado na cama com o aquecimento central ligado. Este livro fez-me pensar
muito. E cheguei a várias conclusões. Entre elas destaco: Sou um burguês e serei sempre um burguês. Por mais que vocifere contra
seja o que for, não deixo de ser um burguês. Falar da fome dos outros, com a
barriga cheia, é muito fácil.
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