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Começa a ser recorrente a seguinte pergunta/afirmação: agora que estás desempregado tens mais tempo para ler e escrever, não é? Nada poderia estar mais longe da verdade. A verdade é que não leio mais nem escrevo mais. Sim, tenho mais tempo livre para fazê-lo, mas falta a vontade. Quando estou a trabalhar gosto de chegar ao quarto que costumo ter alugado, sentar-me na cama, descalçar-me e calçar os chinelos; depois costumo fazer um chá e ler um pouco. Às vezes lá escrevo uma ou outra coisa. Ao fim de um dia de trabalho não há nada de mais gratificante do que ter um livro à minha espera (isto quando não há os braços da mulher que se ama). Agora, que estou desempregado, passo mais tempo a ver as nuvens, o pó que se acumula, as ervas que crescem; passo mais tempo a comparar preços nas prateleiras dos supermercados, a estar atendo às ofertas de escola e a outras ofertas de emprego. Os livros estão ali, prontos. Esperam o dia em que eu esteja empregado novamente, para depois me receberem ao final de mais um dia de trabalho.

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