Um poema de Carlos Veríssimo


VIII

Vendo banha da cobra ao outro do espelho
que me olha incrédulo com tanta estupidez
e ao longe os barcos navegam na crista da onda
e só aí, com facas no lugar de velas, a cortar o vento
norte para onde quero ir. Sopro. Não tenho mais
como ir sem ser comida para os peixes melancólicos
que parecem sorrir, com aquele sorriso meliante
de quem pensa que tem o controlo das coisas.
Felizmente estão tão enganados como todos

os outros

e não somos assim tão poucos.


em os peixes melancólicos, Coimbra: Besouro, 2013, s/p.