Um poema de Urbano Bettencourt


Regressos, reencontros

Ouves a voz dessa mulher
nos dias que sobram de Setembro:
um rumor solar de asas
vindo de longe
como quem atravessou a harmonia inteira
do mundo.
Ouves essa voz vibrando na manhã
e tudo em ti é regresso e onda:
os araçás da infância, os figos,
as sementes onde a vida espera a Primavera,
uma mulher cantando no balcão sobre o mar,
uma ilha defronte.

Onde for o lugar de tudo isto e a memória
desse lugar,
aí encontrarás a raiz exacta
das palavras,
a seiva
de que a vida se sustenta.


(Janeiro, 2003)


Para a Mariana, minha filha,
aos treze anos


em Lugares Sombras e Afectos, com desenhos de Seixas Peixoto, Edição dos Autores, s/l,  2005, p. 22.