Um poema de Ricardo Álvaro


O amor é a colher de mel na boca.
Explico-me: erguemos a mão à altura da cabeça enxameada e levamos a colher de mel à boca. Tiramos a colher com o movimento próprio de cada um. E o mel incendiado fica suspenso no escuro céu-da-boca, a brilhar, a amadurecer-nos a carne e a adoçar o miolo da nossa existência no seu extremoso processo de maturação. E ficamos ali boquiabertos, pasmados a vida inteira, com a boca escancarada e a colher esquecida na mão.


em O Espantador, Lisboa: Apenas Livros, 1ª edição, 2009, p.11.