Um poema de Paulo Tunhas



Poema

Nem mesmo o pó
ou o silêncio
recuperam de uma tarde
o que os hábitos perdidos
nela encontram.
É uma
atmosfera
ou um estado de alma
que, vindo do nada,
de súbito
surge
e ilumina o corpo e os sentidos,
para logo em seguida
desaparecer: como o sol
que por vezes
rompe a opaca barreira das nuvens
e pela janela
nos chega
até que uma nuvem
de novo o obscureça.
São momentos assim
que permitem o poema. Mas, ao terminarem, tudo
regressa à quotidiana banalidade,
e o espírito
que por breves momentos se julgou lúcido
já se move na confusa aparência
solitária
dos dias
e dos dias.

em Fenda - Magazine Frenética, Coimbra: Fenda Edições, 1982, s/p.