Um poema de Marcin Sendecki


Recordação de Celulose

Agora deita-te numa cama limpa.
Agora despe-te e queima a roupa.
A vista da janela que dá para a do
rés-do-chão, e a vista desta, ficam
sobrepostas e divulgadas. E agora é tempo de coisas desagradáveis.
É compreensível. Depois da noite num barco, o sol
parece tão instrutivo que não podemos
fechar os olhos. E vale a pena olhar. Tal como
a prisca atirada para o chão húmido cai no gelo.
Ainda no campo visual, sem pausas para publicidade.

É exuberante. É inevitável.
Afundar-se para alcançar o conhecimento irrefutável.
Enxugar o cabelo e mudar de roupa.
Depois encontrar um lugar à sombra.
O sonho virá silencioso como chuva desfolhante.


em Parcelas, tradução colectiva (Mateus, Setembro de 1999) revista, completada e apresentada por Rosa Alice Branco, Lisboa: Quetzal, 2001, p. 15.