Um poema de Pia Tafdrup

A pele

A pele é o meu único limite
atravessa-a
onde a luz é mais forte
não feches lá fora o mundo
nem a mim cá dentro

mostra-me
que o sol no céu
é o sonho em mim própria
a realidade ardente
quando me mordes
e me fazes sentir
que não há diferença
entre lado de fora e lado de dentro
entre dor e carícia
pedra e palavra

porosa às tuas investidas
sou aquela que
se abre em desejo
de existir no mundo
em todo o lado e ao mesmo tempo

dá-me o que tens
de tudo
não exijo mais nada.


em Ponto de Focagem do Oceano, tradução colectiva (Mateus, Junho 2002) revista, completada e apresentada por Laureano Silveira, Lisboa: Quetzal, 2004, pp.20-21.