Rimbaud e Biedma


Biedma escreveu um dia que queria ser poeta, só que, afinal, acabou por se transformar em poema e nele ficou preso. Penso que em Rimbaud acontece o mesmo. Não sei se poderá ser estabelecido um paralelismo entre ambos os autores. Talvez algo apenas circunstancial, pouco mais. A poesia de ambos é, sem dúvida, transgressora. Rimbaud veio revolucionar a maneira de escrever/fazer poesia. Acredito que a poesia moderna seria muito diferente sem a influência de Rimbaud. O poema Sonho (Rêve) é um bom exemplo. Em Biedma tudo se passou de maneira diferente. Ou talvez não. Segundo os entendidos, a poesia de Biedma veio “revolucionar” a maneira de escrever/fazer poesia em língua espanhola. A vida de Biedma – tal como a vida de Rimbaud – é poesia pura. No entanto, há algo que é semelhante nos dois poetas: o silêncio que tomou conta deles. Rimbaud “fugiu” para essa África de «rios impassíveis» (cf. Derivas de um Barco Ébrio, tradução de Maria Gabriela Llansol) e calou-se para sempre. Tinha 19 anos. Biedma remeteu-se ao silêncio (de 1968 é o seu último livro de poemas): «Las rosas de papel son, en verdade,/demasiado encendidas para el pecho.» (Canción Final, em Las personas del verbo). Tinha 39, mais dois anos do que Rimbaud, quando morreu.

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