Um poema de Reinaldo Ferreira


Receita para fazer um herói

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intesa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto.

em Um Voo Cego a Nada (1960), retirado de  Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, selecção, organização, introdução e notas de Jorge Réis-Sá e Rui Lage, Porto: Porto Editora, 1ª edição, 2009, p.1415.

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