Versões: Charles Simic


Bestiário para os Dedos da Minha Mão Direita


1.

Polegar, dente solto de cavalo.
Galo das suas galinhas.
Trompa do diabo. Verme gordo
Que coseram à minha carne
Quando nasci.
São precisos quatro para o segurar,
Dobrá-lo, até o osso
Começar a doer.

Corta-o. Ele safa-se
Sozinho. Ou ganha raízes na terra
Ou vai caçar com os lobos.


2.

O segundo indica o caminho.
O caminho. Atravessa a terra,
A lua e algumas estrelas.
Vejam, ele aponta mais além.
Aponta para si próprio.


3.

O do meio tem dor de costas.
Rígido, ainda pouco habituado a esta vida;
Homem velho logo à nascença. Parece que procura
Algo que teve e perdeu,
Depois olha para a palma da mão,
Como um cão à procura
De pulgas
Todo dentes afiados.


4.

O quarto é um mistério.
Às vezes quando a minha mão
Descansa sobre a mesa
Ele salta sozinho
Como se alguém o chamasse.

Depois de cada osso, dedo,
Chego a ele, confuso.


5.

Há algo de inquietante no quinto,
Há algo perpetuado logo
À nascença. Fraco e submisso,
O seu toque é meigo.
Pesa uma lágrima.
Tira a remela do olho.


Charles Simic, «Bestiary for the Fingers of My Right Hand», de Dismantling the Silence (1971), em Selected Poems 1963-2003, Londres: Faber and Faber, 2004, pp. 7-8.

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