Um poema de Manuel Altolaguirre


Não há morte

Não há morte nem princípios.
Só há um mar onde estivemos e estaremos,
um mar de peixes que são como nós,
que voam quando nascem,
que se afundam quando morrem;
peixes voadores
que saltam à luz
sem chegar a ser anjos.
Só há um mar
e os alegres saltos da vida.
Esta curva no ar,
tão lenta às vezes,
sobre o mar tão cobiçoso,
não é um arco-íris
depois da tormenta,
não é um poente
por onde possa passar ninguém.
A nossa vida desenha
sua ascensão e descida
sobre esse mar humano,
onde a humanidade
realmente vive.
Não há morte nem princípios.
Só há uma árvore grande
que sacode as suas folhas
para nutrir-se delas
quando caiam no chão.


em Mesa de Amigos, versões de poesia por Pedro da Silveira, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, pp. 236-237.

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