Coração a Coração
Enfim aqui estou de pé
Passei por ali
Alguém passa por lá agora
Como eu
Sem saber onde vai
Eu tremia
Ao fundo do quarto a parede era negra
Ele tremia também
Como pude eu transpor o limiar dessa porta
Poder-se-ia gritar
Ninguém ouve
Poder-se-ia chorar
Ninguém entende
Encontrei a tua sombra na obscuridade
Era mais doce do que tu
Antigamente
Estava triste a um canto
A morte trouxe-te essa tranquilidade
Mas tu falas ainda
Queria abandonar-te
Se entrasse ao menos um pouco de ar
Se o exterior nos deixasse ainda ver claro
Sufoca-se
O tecto pesa-me na cabeça e empurra-me
Onde vou eu meter-me para onde partir
Não tenho espaço que chegue para morrer
Onde vão os passo que se afastam e que escuto
Longe muito longe
Estamos sós a minha sombra e eu
A noite cai
em Trocar de Rosa, tradução de Eugénio de Andrade, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 5ª edição, 1995, pp. 41-42.
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