Arte da Fuga (4)


Regresso àquele quarto fechado no tempo. Ao ruído de fundo de K7 carregadas de assombro. E havia os discos que trazia da casa de um primo. Foram a minha iniciação na traficância dos sentidos, dos dias. Não vivia no centro da cidade. Não vivia numa cidade. Não precisava: ela vinha até mim, num jogo de sombras. Estava longe, eu sei. Em vez das suas ruas, catedrais, jardins, fábricas: a montanha. Aquela que estava sempre a dizer: sai, sai daqui antes que seja demasiado tarde.

1 comentário:

Anónimo disse...

Agradece-se a recuperação de um passado comum... A mim, o que mais me inquieta é que talvez não tenhamos percebido bem as palavras de uma montanha que, apesar de nos enjeitar enquanto jovens, está sempre pronta a acolher os nossos despojos...Às vezes, todos nós ansiamos por dizer como Torga: Regresso às fragas de onde me roubaram / Ah! Minha serra, minha dura infância...

Um desterrado