Um poema de António Silva Graça

Não sei se vai chover ou não.
Nem se a greve entupirá as ruas.
Haverá comboios? Autocarros?
Barulho no andar de cima?

Certo, só o chá das sete.
Que pode ser às oito ou nove.
Mas é sempre chá e quente.
Feito num bule de porcelana fina.

Dias há que o seu aroma fresco
me transmite algum sossego.
Mais tranquilo e desperto
começo então a escrever.

Umas vezes com rigor.
Outras vezes nem por isso.
Depende muito do chá
e da forma como o tomo.


em Invenção na Sombra, Lisboa: Relógio D'Água, 1989, p. 14.

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