Não tenho muito conhecimento de causa do mundo editorial português. Mas sou leitor há já alguns anos. Sei, penso eu, verificar quando um livro está equilibrado ou não. Também sei que essa é a função do editor: dizer ao escritor que algo está a mais ou a menos e abrir-lhe os olhos. Escrevo isto depois de ler as apreciações literárias de Eduardo Pitta (no Da Literatura, pois não compro o Público) e de José Vegar (no Actual) ao novo romance de José Luís Peixoto (Livro, Quetzal, 2010). Eduardo Pitta refere que é «Uma pena o livro não ter acabado na página 204». Sabendo que o livro tem 264 páginas, existem claramente, e na opinião de Eduardo Pitta, 60 páginas que não deveriam existir ou que talvez merecessem outro cuidado editorial. Já José Vegar é mais acutilante: «A parte mais interessante deste enigma criado por Peixoto, (…) é se ao editor foi recusado o papel fundamental de intervenção no texto, ou se ao texto foi atribuído um estatuto editorial que dispensava a edição.» (Actual, 02 Outubro 2010, p. 33). Contudo, talvez nada disto surpreenda o leitor mais atento. A função do Editor, em Portugal, está muito longe daquela que é atribuída nos países anglófonos, onde um editor faz ou desfaz um escritor. Em Portugal, parece-me, o Editor existe apenas para dizer “ámen” ao escritor.
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