Um poema de Konstandinos Kavafis

Teódoto

 
Se és dos verdadeiramente eleitos,
procura conseguir o teu predomínio.
Por muito que te glorifiquem, as tuas façanhas
na Itália e na Tessália
por muito que as apregoem as cidades,
por muitos decretos honoríficos
que arranjem em Roma os teus admiradores,
nem a tua alegria, nem o teu triunfo durará,
nem um superior – o que é superior? – humano te sentirás,
quando, em Alexandria, Teódoto te levar,
numa salva ensanguentada,
a cabeça vil de Pompeu.


E não fiques descansado por na tua vida
limitada, ordenada, e prosaica,
não haver tais coisas espectaculares e horrorosas.
Talvez nesta hora na casa composta
de algum vizinho teu entre –
invisível, imaterial – Teódoto,
levando uma cabeça assim horrenda.



em Poemas e Prosas, tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis, Lisboa: Relógio D’Água, 1994, p. 31.

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