Um poema de Carlos Mota de Oliveira


Meio Milhão De Desempregados

Mexendo
a
maxila

da gruta
do
Escoural

O
porcalho

O
pequenote

O
rançoso

deputado
da
maioria

avisa
que
se Deus

não acudir
com
um milagre

qualquer
dia

a
unha

a
pata

mais
ou menos
suína

que permite
a
um deputado

arrastar-se
pelos
corredores

da
Assembleia

pode
medir

apenas
seis

centímetros
de
comprimento.

Anda mas
é
direito

sem ser
de
gatinhas,

gritam
uns!

E
outros:

Põe
mas é

o teu pé
chato
nalguma parte!

Por cima
do


está
o
manto,

explica-se
o capão

o
merdeiro

o viril
Telmo

do partido
do
tarimbeiro Portas.

Tens mas
é
a mandíbula

e as orelhas
de
um berbere

Um sexo
devoto

e
outros

dons
gratuitos:

Piolhos
na
cabeça

Piolhos
no
fato

Piolhos
na
barriga

no
púbis

por
cima

do
recto

por detrás
da
bexiga!

De modo
beato
e florido

Casto
e
opusdeitado

Sem
sujidade

na
língua

Qual
membro

genital
ou
da Igreja

Não contagiado
de
gálico

Como uma vaca
dos
arredores de Lisboa

Virado
para baixo

Coberto
de pêlos

O alindado
Presidente

tenta
serenar
o Consistório:

“A excitação,
senhores
deputados,

determina
o
aumento

da
massa

do tecido
excitado.

Desta
sorte,

as queixadas
de
um deputado

tendem
a
tomar

uma forma
imunda
e ruminante.

Um
deputado

não é
um animal

de
lavoura

ou um caldo
de
castanhas piladas!

Um deputado
não é
uma ninharia

Um deputado
não é
a unha

de um
solípede

um chifre
nojento

um
fumeiro

ou uma loção
para
a sarna!

Um deputado
não é
o pecado original

Um deputado
faz
o ninho

nas
cadeiras

do
hemiciclo

e os
seus ovos

são recolhidos
e
consumidos!”

Ó Amaral
montas
é muito mal!

Enche-te
mas é
de genebra

um
pouco

de noz
moscada

uma casca
de laranja

e toca-nos
ao
bicho!

E exultam
e
regozijam-se

os ministros
da
Nação:

Ó
Amaral

o
estômago

de um
deputado

nunca pode
estar
desocupado!

Ó Amaral
montas
é muito mal!

Ó Amaral
enche-te
mas é de genebra

Ó
Amaral

que
diabo

com
franqueza

toca-nos
mas é
ao bicho!

em Este Outono Sobre os Móveis Dourados, s.l.: Edição de Autor, prefácio de Miguel Serras Pereira, 2005, pp. 97-112.

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