Um poema de Almeida Garrett


Gozo e Dor

Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
− Não, Ai! não; falta-me a vida,
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso do gozo é dor.

Dói-me a alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida – ou a razão.

em Folhas Caídas, Lisboa: Ulisseia, col. Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, introdução de Maria Ema Tarracha Ferreira, 1991, p.120.

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