Licht und Blindheit (11)


Ian Curtis e um minuto de silêncio ao luar
por Sérgio Currais

Quando eu era puto havia um gajo no meu bairro, irmão mais velho de uma amiga, que era uma espécie de evangelizador musical dos miúdos, que éramos nós. Lembro-me de um dia ter apanhado uma grande moca (ele, pois eu (ainda) não apanhava mocas) e, numa noite de Verão, ter proposto um minuto de silêncio ao luar por Ian Curtis. Isto foi para aí algures em 1988. Nessa altura eu tinha uns 13 ou 14 anitos e não fazia ideia de quem era esse tal de Ian Curtis. Ou se calhar já fazia, pois já devia ter ouvido qualquer coisa dos Joy Division. Aliás, agora que me lembro melhor, quase de certeza que já tinha ouvido, pois o primo mais velho de um outro amigo meu era também o seu (desse amigo) mentor musical e no quarto dele (desse amigo) havia uns posters de Bauhaus, Joy Division, The Fall e por aí. Vai daí, um dia eu cresci e deu-me para ouvir também os Bauhaus e os Joy Division e os The Cure e essa malta toda que deprimia legiões de ouvintes entre os quais eu. Até andei uns tempos quase todo vestido de preto mas depois a onda passou-me. Dei muita atenção aos The Cure e menos aos Bauhaus e aos Joy Division, mas durante uns tempos valentes ouvi Joy Division q.b., andava sempre a deprimir-me com aquilo. Ninguém leve a mal o facto de eu insistir na questão da depressão, até porque não é pejorativo da música, antes pelo contrário. Muitas das músicas que realmente nos tocam são tristes, muito tristes. E verdade seja dita, o gajo matou-se. Acho que conseguiu deprimir-se com a sua própria música, o que é um feito só ao alcance de grandes génios musicais. Um dia mais tarde, já adulto, abandonei a música triste para sempre. Não oiço mais coisas depressivas porque me deprimem. Vai daí, nunca mais me deu para ouvir os Joy Division. Tenho apenas um CD que lá está na estante com os seus amigos, remetido para um certo esquecimento. Mas a verdade é que, quando volta e meia calho a ouvir um ou outro tema, Atmosphere ou assim, uma só música consegue transportar-me para todo um imaginário que vivi e cujas emoções experimentadas nesse tempo foram tão belas quanto obscuras. Sempre entendi assim a música dos Joy Division. Obscuramente bela.

1 comentário:

joaninha versus escaravelho disse...

"Obscuramente bela" como a de todos os depressivos. :)
Sinto exactamente o mesmo. Adoro todas as bandas da minha juventude (em 88 já estava a acabar a faculdade) mas não as ouço com frequência. No entanto vi o "trio" a que te referes ao vivo: Iggy, Bowie e Bauhaus. :)
Mudam os tempos, mudam os sons (apenas Bowie me segue indefinidamente), mas volto sempre à velha guarda, aos urbano-depressivos, sei lá... para matar saudades. :)