«Corajoso, Marquinhos disse (a voz tremeliquenta): «Pai, tenho algo a dizer-te... Eu sei que não vais gostar, e eu juro que tentei lutar contra isto, eu juro, mas pai... pai, eu... eu não consegui! Pai, eu sou pedófilo!». O pai respondeu, exasperado, em súbita e inesperada agressividade: «O quê? O meu próprio filho? Pedófilo? Por Deus, não!» Marquinhos acobardou-se, mas não cedeu à vontade de tentar reparar o feito: «Sim, pai, eu sinto-me sexualmente atraído por indivíduos do mesmo sexo!» O pai chorava lágrimas de dor. Tinham-se passado poucos segundos, quando uma lâmpada amarela surgiu sobre a cabeça do pai. Disse: «Mas espera lá, tu não podes ser pedófilo. Tu tens 14 anos!» Confundiu-se o pobre Marquinhos, e prostrado ficou, sem reacção, mas por fim compreendeu tudo: o pai estava em negação. Mas nada o faria parar, Marquinhos assumira, perante si e perante o mundo, quem era. A perspectiva de uma nova vida, livre e da cor do arco-íris, edificava-se então à sua frente.»
José Bértolo em Tio Vânia
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