Pregação
Este nosso calmo mundo está pronto para o fim –
E mesmo assim o sol brilha, os pardais vêm
Todas as manhãs para as migalhas da padaria.
Na porta ao lado, dois homens entregam uma cama a um casal [recém-casado
E param para admirar uma bicicleta presa a um parquímetro.
O dono está a fazer o almoço à avó doente.
Ele aquece a sopa e serve-a numa tigela.
As janelas estão abertas, há uma brisa quente.
Na nossa rua as jovens árvores deliram por ter folhas.
Na rádio há ópera italiana, o som está demasiado alto.
Brevi e tristi giorni visse, canta o barítono.
Todos os que passam pelo quarteirão conseguem ouvi-lo.
Algo sobre os dias que nos restam para gozar
Sendo poucos e tristes. Mas hoje não, Maestro Verdi!
No cabeleireiro uma rapariga salta duma cadeira,
O cabelo loiro a dar-lhe pelos ombros nus
Enquanto sai porta fora nos seus saltos altos.
“Tenho de ir”, diz o rapaz elegante à sua avó.
A bicicleta está onde a deixou.
Ele pedala indiferente pelo muito trânsito
A camisa branca fora das calças a flutuar
Muito depois de todos terem repentinamente parado.
Charles Simic «Preachers Warn» , em The New Yorker, 1 de Março de 2010.
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