Um poema de José Alberto Oliveira


A Literatura

Cultivam-se virtudes raras: a bonomia,
o encanto, a mediocridade. Queimado
o acessório, que fica? O sal na água,
eis o espírito. E eis esse alferes que
louco enforcou os cães e o outro pequeno
oficial, que apaixonadamente conduziu
um pelotão à chacina. Ébrio, empunhando
o revólver até à morte. O cinismo
progredindo. Ao fim de tudo,
uma bala perdida levou-lhe um olho.

Escreviam-se cartas à hora do almoço
e à hora do chá: o expatriado
e a florista. Essas pequenas vilas,
de escassa ribeira, onde é aprazível
deixar correr o tempo. A literatura.

em Por Alguns Dias, Lisboa: Assírio & Alvim, 1ª edição, 1992, p. 31

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