Talvez seja o mais ignorado de todos os poetas portugueses nascidos na década de 70. O seu nome nunca surge nas listas de novíssimos nem nas novíssimas antologias dos novos. Órfão de pai e mãe mesmo antes de nascer, Pedro de Melo Fonseca nasceu de uma rocha e cedo recorreu aos livros para inventar um mundo que pudesse chamar seu. Influenciando, numa primeira fase, pelo ultra-romantismo e pela poesia decadente de um outro tempo , escrevia versos terminados em -inha, em -ão e -am, em -ito, em –mente e noutras terminações que não dessem muito trabalho. Durante essa sua fase nunca se deu ao trabalho de aprender a contar pelos dedos, pois a métrica das coisas nunca lhe interessou muito: preferia passear por caminhos de cabras e beber do silêncio das fontes. Numa segunda fase, um proto-surrealismo – do qual ele próprio foi o criador, com direito a manifesto perdido no tempo – povoou os seus textos. Foram dessa altura os trinta e dois poemas em prosa a que deu o título genérico de como sonâmbulo, publicados numa revista de tiragem regional, mas que nunca ecoou no resto do país. A maior mudança deu-se quando viu pela primeira vez a sua imagem reflectida num espelho. Desse encontro consigo próprio concluiu que era bonito de mais para perder tempo a escrever poesia. Parou aos vinte e dois anos. O seu único amigo foi designado por ele como o «fiel depositário de nada», quando lhe entregou os cadernos onde escrevia. Nunca mais se ouviu falar dele e o seu paradeiro é incerto.
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