Um poema de Fernando Assis Pacheco
BAH!
Fora os livros não vejo
muita outra coisa
a que possa chamar
minha propriedade
a gilete? o pente
imitação tartaruga? a tesoura
das unhas?
nem mesmo a roupa
enchendo todo o armário
que se queima com o suor
gasta rasga
desfia em pouco tempo
condenada
por um corpo infeliz
e quando a nova a estrear
faria talvez já
as delícias do adelo
álbuns de fotos?
estojo caneta-lapiseira?
pesa-papéis
deitando a sua neve falsa
sobre o castelo alemão?
inclusive o carro
envelhece mês a mês
sem uso: o prazer de guiar
é coisa dos anúncios
e a gasolina cara
e para quê tirá-lo da rua
para arrumá-lo aonde?
guiem agora as filhas
em Respiração Assistida, Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, pp. 27-28.
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