Um poema de António Gregório


O meu amor por ela é o meu corpo deitado
nos carris. Já não avisto adiante a terna
locomotiva – o caminho de ferro curva –
nem vislumbro – pelo mesmo motivo – lá
mais atrás o fim da composição. Às vezes

suspeito que estes últimos vagões sou eu
a inventá-los que podia ir-me embora

mas amortece-me a toada vagarosa
e monótona dos rodados o acalento
do óleo morno que amiúde goteja
e acima de tudo a penumbra aqui em baixo
uterina coando a luz da manhã – essa
sim sem favores real e dilacerante.

em American Scientist, Quasi: V.N. Famalicão, 2007, p. 24.

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